sexta-feira, 29 de junho de 2012

LIVRO> A ERA DA LOUCURA, de Michael Foley

Livro> A Era da Loucura
Autora> Michael Foley
Editora> Alaúde
232 p.

Opinião> Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja à busca daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado felicidade. No entanto, com países colocando-a em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo o Brasil deve fazer parte -, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata condição; a Felicidade (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos. E que seja paga com juros! 

É essa transformação de paradigmas e prerrogativas, que o filósofo irlandês Michael Foley discute no livro “A Era da Loucura – Como o mundo moderno tornou a felicidade uma meta (quase) impossível”. Não se engane com o título. Para aqueles que adoram livros de autoajuda, o autor é um crítico ferrenho a este tipo de literatura, onde há variáveis passos a serem seguidos para alcançar os mais absurdos objetivos. “A única receita é que não há receita”, afirma ele. 

Os que têm ojeriza à filosofia podem ter uma agradável surpresa. Com uma narrativa leve e cômica, Foley acaba trazendo graça para o que seria trágico e, por muitas vezes, colocando suas próprias ações em cheque. E buscar o entendimento através das suas próprias experiências é o melhor meio, segundo o autor, de chegar a um equilíbrio racional do querer e o poder.

Em cada capítulo, uma desconstrução. Foley fornece não só a lógica, mas diversas informações esclarecedoras sobre temas como trabalho, amor e envelhecimento, que tornam o senso comum um emaranhado ridículo de ideias manipuladas e manipuladoras. Em uma entrevista à revista Galileu, Foley desmistifica, por exemplo, a questão da transcendência nas religiões:  

“Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e drogas. Quanto à espiritualidade, não-crentes não devem permitir que isto seja reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente, um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na galeria das maravilhas que é o universo.”  

Para o autor, a fuga de responsabilidades está tornando a sociedade infantil e individualista. Existe uma fuga progressiva das obrigações e uma busca por riqueza inesgotável, situação inversa pelo qual nossos pais e avós passaram. “O novo infantilismo tem contribuído para uma sensação cada vez maior de autovalorização e prerrogativa de direitos, e uma sensação cada vez menor de autoconhecimento e obrigação.” 

E autoconhecimento é uma das palavras chaves do livro. Um dos principais objetivos do autor é tornar o leitor consciente do que ocorre a volta. “Se a ignorância é o problema, a solução deve ser o conhecimento. Portanto, percepção é redenção. Compreensão é salvação”. E para não dizer que Foley não cedeu nenhuma receita para encontrar ou perceber essa tal felicidade, ele dá um conselho peculiar: Meditação. “O objetivo da meditação não é a quietude e a indiferença, mas a consciência, a prontidão, a clareza de propósito.”

Receita simples de ouvir, mas difícil de colocar em prática. Mas o próprio Foley rebate com maestria a nossa postergação de melhorarmos nosso ser é o pequeno universo que nos cerca; “tudo o que é excelente é raro e difícil de alcançar”. É; ninguém disse que seria fácil.

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